Num vôo pela cidade abri minhas asas. Sons de carros pelas ruas,
buzinas fumaça faróis neblina. Vozes perdidas nos becos, oração na
capela, um cão pedindo um dono. O vento leva uma caixa de papelão...
Para onde vai essa caixa? Sei que ela deve ter sua história... Pessoas
andam apressadas com os olhos apertados, compras carregadas pelas
mãos, tomates rolando pelo chão...
Líquido escorre pela esquina, gritos distantes ecoam entre os prédios,
vidraças quebradas, talvez tiros... Entulhos esparramados, grades...
Pessoas acompanhadas, outras solitárias, namoros camuflados pelos
muros...
Eu pouso numa cobertura, tecnologia, piscina, almofadas fofas luzes
azuis e chaves, muitas chaves... Num vôo pelo morro, manivela, água
fria, água seca, gato perdido, luzes amarelas e chave, poucas chaves!
Mas percebo que em todos os lugares, um simples "olá" as pessoas tem
dificuldade em dizer, talvez um estranho olhe para você com mais
ternura! Luzes riscam as janelas denunciando o horário da novela,
cheiro de comida envolvente no ar. Eu fecho minhas asas e adormeço num
canto qualquer, e acordo sem asas, "elas foram roubadas!"... Passei as
mãos ao meu redor, um lindo gramado, flores sendo idolatradas e
abençoadas com o sugar das abelhas... E a chuva cai repentina e renova
minha existência, fecho meus olhos e adormeço novamente, talvez pela
eternidade... Pois num calendário qualquer poderei acordar num tema
diferente!
Scorpion_Live
